11 de out. de 2013

DONKEY KONG E EU




Outro dia peguei o 3DS e entrei o eShop para procurar promoções e eis que encontro um dos primeiros Donkey Kong. Nem vi o preço e comprei. Joguei por quase duas horas e, em seguida senti culpa por ter perdido um tempo tão essencial para dar conta de tudo que preciso fazer durante o dia. Corri para compensar as horas desperdiçadas e abracei o estresse com mais força do que o normal. E foi só no escuro, tentando pegar no sono que me dei conta do quanto precisava ter reencontrado Donkey Kong.

Não era para matar as saudades do jogo e nem porque achei legal que estava disponível para um console moderno. Na verdade, o que menos importou foi o jogo. O que importou mesmo foi a sensação de ter voltado no tempo. 



Durante aquelas horas, quem jogava não era a mulher sentada na cadeira do computador com o celular ao lado do teclado e sim, a menina sentada com pernas de índio no carpete da sala, na frente da TV passando o desenho do Tom & Jerry e a lição por fazer. 




Estava enganada pensando que havia passado duas horas concentrada nos barris que o Donkey jogava lá do alto. Não havia percebido que tinha aberto as portas para lembranças sutis como o som da empregada lavando a louça e da minha mãe subindo e descendo as escadas por motivos que só fui entender depois que meu filho nasceu. Não sabia que podia até sentir o cheiro da madeira da estante de livros e das fibras sintéticas do carpete e que, no fim, tudo se traduzia no estar em casa, protegida e em paz.



Depois de adulta as certezas desaparecem à medida que as responsabilidades aumentam. Poder alcançar, mesmo que só por algumas horas, a maravilhosa ignorância do que há de pior no mundo, me fez suspirar como há muito não fazia. Tive saudade sincera daquele momento em que estava alheia ao sofrimento que a vida é capaz de causar. 

Naquelas horas não estava com Donkey, estava com as verdades que só uma criança pode acreditar. Pequenas certezas como a de encontrar uma bolacha recheada na lata vermelha dentro do armário da cozinha, do chá que minha avó iria trazer, do meu cachorro que me esperava no quintal. Grandes certezas como a de que meu pai era imortal, que as piores maldades viriam das colegas da escola, que o sucesso só dependeria das notas altas que tirasse nas provas. 



Aquela noite peguei no sono com a menina que era pequena demais para conter a alegria de ganhar um presente fora de ocasião e mais indulgente consigo mesma quando olhava no espelho. Sonhei com meu pai, meu cachorro, com o estojo cheio de lápis de cor. Dormi pesado e com o corpo leve. Naquela noite não acordei preocupada com os problemas e nem com um barulho estranho. 

No dia seguinte me levantei e quando me vi, já tinha voltado a ser mulher, mas um pouco diferente. Estava mais bonita, cantarolando e aliviada. Bonita por causa do sorriso espontâneo, pouco me importando com o que estava cantando e com a certeza de que aquelas duas horas com Donkey Kong não foram perdidas. O que estava perdida era a memória tão querida da infância que nunca me deixou. 

Por Tsu  Matsubara


                         

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Café com Cappuccino
Nostalgia Gamística







6 comentários:

  1. Eu realmente não sei como começar esse comentário. xD

    Primeiramente, peço desculpas a você por não ter lido seu post antes. Só me senti na obrigação de lê-lo depois do seu comentário lá no Desocupado. Agora me arrependo amargamente de ter feito isso.

    Quem me conhece sabe que não é lá muito difícil me arrancar lágrimas, mas nunca um texto de internet tinha conseguido essa proeza antes. De verdade. Fiquei ao mesmo tempo muito feliz por esse "revival" que Donkey Kong conseguiu lhe proporcionar e triste por ver o quão ruim é ter que crescer, ter que ser adulto. Esse é um dos meus maiores medos. É por isso faço de tudo pra manter viva e alegre a minha criança interior, sendo taxado, muitas vezes, de ingênuo, irresponsável ou infantil. Sinceramente, eu prefiro muito mais ser tudo isso que deixar pra trás a felicidade pura e inocente de uma criança, que abre um sorriso enorme pras menores coisas do mundo. Não sei se viver assim é muita coragem ou muita idiotice, mas é assim que tem sido.

    Enfim, obrigado por este post maravilhoso e até mais! =)

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    1. Obrigada pelo comentário. Não que queria ter feito você chorar (rs), mas acho que faz muito bem em manter o lado pueril e lutar bravamente para não perdê-lo.

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  2. Sensacional!

    Hoje em dia muitas pessoas me julgam infantil por valorizar tanto essas lembranças da infância, hahaha!

    Eu não me importo, gosto de ficar próximo dos meus primos menores, sempre os incentivando a brincarem, jogar videogame, principalmente os clássicos,mas sem deixar de explicar que o hoje deles, serão as lembranças inesquecíveis quando atingirem a vida adulta.

    Diversas lembranças gostosas da minha infância veio a tona enquanto lia o seu texto, só tenho a agradecer por presentar seus leitores com um artigo tão belo.

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    1. Fico feliz que tenha gostado do post. Às vezes a gente esquece do quanto de criança tem dentro de si porque acaba sendo levado pela vida. Obrigada pelo comentário.

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  3. Essas bolachinhas eram deliciosas mesmo!! Esse Donkey Kong aí que você mostrou, eu tive um primeiro contato com a versão para Game Boy Classic, lançada em 1994. O mais legal é que o jogo serve para o místico, Super Game Boy, que só consegui ver o jogo todo colorido pelo emulador rsrsrs. Mário dá altas piruetas, inclusive piruetas que só foram aparecer depois no Super Mario 64... pois é, Shigeru e suas piadinhas! ótima matéria!

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